Orelhão
O telefone público brasileiro, mais conhecido como Orelhão foi inventado pela engenheira Chu Ming Silveira.
Hoje, com a popularização dos celulares smartphones, o Orelhão ficou um pouco de lado, mas já foi muito útil e revolucionário. Muita gente ainda se lembra de comprar aquelas fichas parecidas com moedas. Mais tarde foram usados cartões telefônicos, que muita gente fazia coleções.
A partir da forma do ovo, simples e acusticamente a melhor, segundo a arquiteta, foram desenvolvidos os chamados Orelhinha e Orelhão.
As cidades do Rio de Janeiro e São Paulo receberam os primeiros telefones públicos com os novos protetores, nos dias 20 e 25 de janeiro, respectivamente. A população logo criou apelidos para a novidade, como “Tulipa”, “Capacete de astronauta” e o definitivo, “Orelhão”.
Em 1973, foram exportados os primeiros Orelhões, para Moçambique, na África. Orelhões ou modelos inspirados no projeto de Chu Ming podem ser encontrados, hoje, em outros países da África, como Angola, em países da América Latina como Peru, Colômbia, Paraguai, e até mesmo na China.
O PROJETO
O problema era encontrar uma solução em termos de design e acústica para protetores de telefones públicos, que apresentem uma relação custo-performance melhor que a dos já existentes e que se adequem às condições ambientais.
As soluções existentes
1.Telefones sem nenhuma proteção, simplesmente instalados em paredes de bares, farmácias, etc.
2.Telefones em postos de serviços localizadas em edifícios e praças, de forma concentrada.
Estas soluções carregam em si uma série de inconveniências para o usuário e não atendem ao publico em geral.
Os projetos (o ovo, a origem)
Com o objetivo de encontrar uma solução inteiramente nova fizemos uma pesquisa sobre os materiais existentes e respectivas técnicas de execução. Escolhemos o acrílico e o fiberglass pelo fato de suas qualidades atenderem aos requisitos propostos.
Foram realizados estudos para três classes do problema: solução para ambientes fechados (o orelhinha), solução para ambientes semi-abertos (as conchas, principalmente para postos de gasolina) e solução para ambientes abertos (os orelhões modulares para logradouros públicos de um modo geral)
Primeiramente foi elaborado o projeto orelhinha, cujas dimensões são relativamente pequenas devido às limitações do espaço para qual se destinam.
A idéia surgiu em princípios de 1970 e por diversas razões o primeiro protótipo em acrílico de 6 mm de espessura só foi executado em meados de 1971 e colocado em testes pela então C.T.B. no saguão do seu edifício sede, onde até hoje está em perfeita condição de uso. O orelhinha foi projetado para ser fixado em paredes e em pequenos postes, podendo contudo, seu adaptado a muitos outros tipos de suporte.
Sua forma oval foi adotada não só por suas características acústicas e de design bem como pela sua coerência com o método de execução.
Os orelhinhas são transparentes com a finalidade de aumentar o espaço visual e coloridos para ressaltar a finalidade do uso da peça.
O acrílico do orelhinha reflete parcialmente grande parte do ruído externo incidente sobre a calota e projeta o restante do ruído que entra pela abertura frontal para o seu foco, que se encontra deslocada do ouvido do usuário médio, oferecendo uma boa eficiência na faixa de 30 a 50 decibéis.
Os orelhinhas encontram-se instalados em muitos postes de telefônicos públicos, supermercados, etc.
O projeto concha foi elaborado na mesma época que o orelhinha. As conchas foram projetadas especialmente para serem utilizadas em ambientes semi-abertos, como é o caso dos postos de gasolina. Por ser externo, as restrições de espaço passam a ser pouco relevantes, o que nos possibilitou realizar uma forma mais adequada à nossa proposição de criar uma imagem mais completa da prestação de serviços do posto, por exemplo.
Foi então elaborado o modelo 1, o mais simples, cuja forma é resultante de dois cortes planos em uma esfera de 1 m de diâmetro, deixando uma abertura frontal ao usuário e adaptando-se à parede de forma integrar-se ao todo. Sua maior abertura frontal é acusticamente compensada pela maior distância do foco ao ouvido do usuário médio (1,75 m de altura).
Estes modelos foram instalados em um grande número de postos Shell.
O modelo 2 lateral evoluiu do frontal, efetuando-se uma rotação 90o em torno do seu eixo, obtendo-se as seguintes vantagens, com um custo ligeiramente mais alto: 1. Maior eficiência acústica, pois fica diminuído o ângulo sólido de entrada do ruído.
2. Maior eficiência, privacidade e estética ao se formar uma série de laterais, em que um modelo é o “fechamento” do outro.
Este modelo não está ainda em uso e pode ser aplicado em locais semi-abertos onde haja grande concentração de usuários, como em estações rodoviárias, parques, estádios, pavilhões de feiras, etc.
O modelo 3, lateral com aba, evoluiu do modelo lateral, complementando-o por uma aba cilíndrica, cuja superfície se adapta ao corpo semi-esférico superior concordando a espiral da aba com a abertura circular original, dando uma forma mais “espacial” à peça e também possibilitando maior proteção ao usuário contra chuva, vento, etc. sendo que as características acústicas são as mesmas do modelo 2.
As conchas foram projetadas também em acrílico (10 mm), são transparentes e incolores por se aplicarem em espaços semi-abertos onde o telefone é um elemento de apoio a uma outra atividade final. O princípio de funcionamento é o mesmo do orelhinha sendo que as conchas são eficientes na faixa dos 50 à 80 db de ruído.
O caso do orelhão é o mais delicado pois deve atender as condições mais desfavoráveis: aplicação externa, a todo tipo de público. Alto nível de ruído nas vias públicas e atendimento a concentração diferentes, para o que foi criado um modelo modular a três níveis, que pode ser facilmente desenvolvido para um número n de orelhões, bastando usar um adaptador adequado.
A sua forma foi desenvolvida com base no orelhinha, adequando-o à nova problemática e procurando atender a todos os itens da lista de registros propostos. Para o orelhão foi dispensada a transparência, necessária em ambientes fechados e semi-abertos, o que possibilitou a alternativa de fiberglass, que aumentou ainda mais as condições de privacidade do usuário. Seu funcionamento é análogo aos anteriores, sendo que atende bem à faixa de 40 à 90 decibéis, acima do que uma cabine totalmente fechada será o ideal.
HISTÓRICO DO ORELHÃO
1971
Criado em 1971, o Orelhão recebeu vários apelidos como tulipa e capacete de astronauta, porém seu nome técnico na CTB era Chu II. O Orelhinha, ou Chu I, de dimensões menores e feito de acrílico cor-de-laranja foi projetado para ambientes fechados. Exemplares do Orelhinha foram instalados dentro da sede da Companhia Telefônica Brasileira (CTB) na rua 7 de Abril, no centro de São Paulo.
1972
A inauguração para o público se deu em janeiro de 1972, quando Orelhões foram instalados no Rio de Janeiro, no dia 20, e em São Paulo, no dia 25.
1973
A arquiteta Chu Ming participou da Bienal de Arquitetura de São Paulo com seus projetos de protetores telefônicos: Orelhinha, Concha e Orelhão. Quando os orelhões começaram a ser exportados para outros países, a empresa Telesp substituiu a CTB na operação da telefonia no Estado de São Paulo.
1974
A pedido da Prefeitura de São Paulo, Chu Ming projetou modelos para bancas de jornais e de flores, a serem construídos em fibra de vidro, como os protetores telefônicos que a notabilizaram.
1975
Os Orelhões azuis, para chamadas interurbanas, chegaram às ruas.
1980
O Orelhão integrou a exposição “Design e Comunidade”, organizada pelo Núcleo de Desenho Industrial da CIESP, no prédio da FIESP, em São Paulo.
1982
O Orelhão fez parte da exposição “O Design no Brasil, História e Realidade”, organizada pelo Museu de Arte de São Paulo, no SESC Pompéia. A Telesp inaugurou o primeiro Orelhão comunitário, na favela da Vila Prudente, em São Paulo, possibilitando aos moradores receber chamadas.
1992
As fichas telefônicas foram substituídas pelos cartões telefônicos.
1998
Os Orelhões ganharam a cor verde-limão, marcando a aquisição da Telesp pela espanhola Telefónica, como parte do processo de privatização da Telebrás.
2003
A arquiteta Chu Ming foi postumamente premiada pela Universidade Mackenzie, onde estudou, pelo projeto do Orelhão.
2009
Orelhão fez parte da exposição “Ícones do Design”, no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo.
2010
O Orelhão integrou a exposição “Tão longe, tão perto”, organizada pela Fundação Telefónica, no Museu de Arte Brasileira da Faap
2012
A “Call Parade”, organizada pela Vivo, homenageou o Orelhão e sua criadora, com a exposição de cem Orelhões customizados por renomados artistas e designers brasileiros, nas ruas de São Paulo.
2016
Orelhão completou 45 anos em atividade.
Para saber mais da história de Chu Ming Silveira, clique aqui .
Fonte:
www.orelhao.arq.br