Matt Jefferies

Walter Matthew Jefferies (12/08/1921 – 21/07/2003), mais conhecido como Matt Jefferies, é uma referência no universo de Jornada nas Estrelas (Star Trek, 1966-1969).

Apesar de não ter trabalhado em nenhuma das séries posteriores da franquia, seu nome é citado em diversos episódios. Mas não como o homem que criou praticamente todos os designs da série original, desde a ponte de comando, passando pelas armas feiser, até a própria nave Enterprise. Jefferies virou referência como um tubo.

O “tubo Jefferies”, um corredor na vertical onde ficam sistemas da nave e que os engenheiros passam boa parte do tempo quando há algum problema foi uma idéia que Matt usou na época da série clássica para resolver um dilema. “Uma de minhas maiores dificuldades”, costuma contar Matt, “é que eu tinha diversas idéias para o cenário da engenharia, mas nunca a verba disponível ajudava. Um exemplo: eu tinha que arrumar um lugar para Scotty ficar mexendo quando precisava arrumar as coisas da Enterprise. E esse lugar não poderia ocupar uma sala inteira. Resolvi então criar um tubo com todo o tipo de coisas complicadas, com fios e etc. Eu acredito que funcionou”, completa. “Alguém resolveu dar meu nome ao tubo, e pegou ! Eu mesmo passei a usar ‘tubo Jefferies’ em alguns dos meus esboços para o cenário”.

Jefferies começou a trabalhar em Jornada nas Estrelas quando Gene Roddenberry ainda nem tinha um escritório ou secretária, na época das filmagens de “The Cage”. Começou como um desenhista de sets. O diretor de arte da série na época era Franz Bachelin. Pato Guzman, amigo de Desi Arnaz (marido de Lucy Ball e um dos proprietários do estúdio Desilu, onde Jornada era filmada) era o segundo diretor de arte. Jefferies criou, ainda como desenhista de sets, a ponte de comando e o exterior da Enterprise. Quando o estúdio deu o sinal verde para Roddenberry produzir um segundo episódio piloto, “Where No Man Has Gone Before”, Bachelin e Guzman haviam se desligado do projeto, e Jefferies assumiu a condição de diretor de arte.

Para criar a nave mais famosa da saga de Jornada Jefferies fez inúmeros esboços, começando com uma nave mais achatada, depois com uma enorme bola na frente e naceles inferiores e até chegar próximo ao desenho que conhecemos muitos esboços foram feitos. Gene acompanhava de perto e ia apontando o que mais gostava nos esboços.

Juntando a imaginação de Jefferies com as opiniões de Gene, a USS Enterprise assumiu o formato de um disco chato, um pescoço, uma espécie de “turbina” abaixo com duas naceles na altura do disco. O prefixo NCC 1701 foi criado também por Jefferies, como ele conta a seguir:

“Ainda não havia sido decidido qual o prefixo ou número de serviço que a nave teria, então eu resolvi dar à Enterprise minha própria designação. Desde a década de 20, a letra N indica ‘Estados Unidos’ em termos de marinha americana. A letra C significava ‘comercial’. Eu adicionei um C extra apenas por diversão. NCC. Após isso, eu teria de pegar alguns números. Eles teria de ser facilmente identificável a distância, logo os números 3, 8, 6, 9 e 4 estavam fora. Não sobraram muitos, então 1701 foi uma boa escolha. A razão pela escolha foi que a Enterprise seria a 17ª nova nave da Federação, e a primeira de sua série: 17-01.”

Sobre o design exterior, Matt conta que sempre quis ficar longe do estilo “disco voador”, porém acabou prevalecendo que a Enterprise tivesse uma seção disco. Após ser informado por Gene da idéia da dobra espacial, Matt resolveu colocar motores enormes e potentes (as naceles). E unindo tudo, um casco inferior secundário.

Quando o escritor e produtor de Jornada Gene Coon criou uma nova raça de inimigos, os Klingons, coube a Matt criar a nave dos novos alienígenas. Jefferies criou o cruzador Klingon em casa, pois como passaria tempo demais no estúdio para fazer a criação, resolveu levar todo o trabalho para casa e trabalhar 24 horas direto. “Como os Klingons eram inimigos, resolvi criar uma nave com um aspecto que logo ao vê-la você já poderia ter a certeza de que não eram amistosos. Teria de ser ameaçadora e instigante”, conta o desenhista.

Enquanto trabalhava na Série Clássica, todos conheciam Matt como uma das pessoas mais calmas e pacatas que trabalhavam no estúdio. Quando os produtores lhe diziam que a verba necessária para a construção de determinado cenário ficaria abaixo do necessário, ao invés de Jefferies reclamar ele simplesmente dizia frases como “Bem… vamos ver o que consigo fazer então”. Na terceira temporada Matt tinha que fazer mágica para construir alguma coisa apresentável com a dinheiro que estava destinado aos sets. Jornada trabalhava com um orçamento para um programa de rádio e não de TV. Mesmo assim em episódios como “Spectre of the Gun” pode-se notar a criatividade de Matt para trabalhar com um baixo orçamento.

A contribuição dele para Jornada nas Estrelas foi além do que foi mostrado na tela. Jefferies trabalhou na AMT Corporation, responsável pelos kits de plastimodelismo da Enterprise original. O desenho do kit também foi criado por Jefferies, e começou a ser comercializado em janeiro de 1967. O mesmo ocorreu com o cruzador Klingon.

 

Matt também criou a nave auxiliar Galileo 7 em Jornada e participou do processo para criar o kit de montar que também foi vendido pela AMT. Enquanto a série estava no ar, Jefferies recebia uma participação na venda dos kits, mas depois que a série foi cancelada Matt não recebeu mais um tostão.
Em alguns episódios da série original, quando havia a necessidade de mostrar outra nave da classe Constitution que não fosse a Enterprise, kits de montar da AMT foram utilizados. Era muito mais barato do que construir novas maquetes.

Depois de Jornada, Matt Jefferies ainda trabalhou em diversas séries da televisão americana, entre elas “Dallas”. Depois dele, Andrew Probert, Rick Sternbach, Greg Jein e John Eaves seguiram seus passos nas séries seguintes e filmes de cinema de Jornada. Mas para todos eles, como sempre dizem, Matt Jefferies é um artista lendário.

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