Arquitetura Cinética, design e funcionalidade

Arquitetura cinética é um conceito através do qual os edifícios são projetados para permitir que partes da estrutura se movam, sem reduzir a integridade estrutural geral.

A capacidade de um edifício para o movimento pode ser usada apenas para: melhorar suas qualidades estéticas; responder às condições ambientais; e / ou, executar funções que seriam impossíveis para uma estrutura estática.

As possibilidades de implementações práticas da arquitetura cinética aumentaram acentuadamente no final do século 20 devido aos avanços na mecânica, eletrônica e robótica.

HISTÓRIA
Formas rudimentares de arquitetura cinética, como a ponte levadiça, podem ser rastreadas até a Idade Média ou antes. No entanto, foi apenas no início do século XX que os arquitetos começaram a discutir amplamente a possibilidade de o movimento ser permitido para uma parte significativa da superestrutura de um edifício.

No primeiro terço do século XX, o interesse pelo arquiteto cinético foi uma das linhas de pensamento emergentes do movimento futurismo. Vários trabalhos e livros incluíam planos e desenhos para a movimentação de edifícios, sendo um exemplo notável o 101 Architectural Fantasies de Chernikhov (1933).

Nas primeiras décadas do século XX, a arquitetura cinética era quase inteiramente teórica, mas, nos anos 1940, inovadores como Buckminster Fuller começaram a experimentar implementações concretas, embora seus primeiros esforços nessa direção não sejam considerados totalmente bem-sucedidos.

Em 1970, o engenheiro/arquiteto William Zuk publicou o livro Arquitetura cinética, que ajudou a inspirar uma nova geração de arquitetos a projetar uma gama cada vez maior de construções cinéticas de trabalho reais. Assistidos por novos conceitos, como a Tensegridade de Fuller e pelos desenvolvimentos em robótica, os edifícios cinéticos têm se tornado cada vez mais comuns em todo o mundo desde os anos 80. O arquiteto José Leonidas Mejia criou o conceito em sua região em 1989 com uma aplicação aprofundada em estruturas transformadoras. É por isso que o arquiteto Mejia iniciou seu projeto experimental denominado “A Casa Arqueética”, que é uma estrutura que transforma seus elementos pelo uso de diferentes ciclovias para transformá-lo.

No início do século 21, três temas inter-relacionados surgiram. O primeiro é para edifícios funcionais, como pontes que podem elevar suas partes médias para permitir a passagem de navios altos, ou estádios com tetos retráteis, como a Arena Veltins, o Estádio Millennium em Cardiff ou o Estádio de Wembley.

Um segundo tema é para estruturas fantásticas que podem executar mudanças no estilo do Transformer ou que tenham uma aparência visualmente impressionante. O pássaro Burke Brise soleil no Museu de Arte de Milwaukee é um exemplo bem visto disso, embora também tenha um aspecto funcional, pois seu movimento permite que ele proteja as multidões do sol ou as proteja das tempestades.

O terceiro tema é que o movimento ocorra na superfície do prédio, criando o que Buckminster Fuller chamou de efeito de “articulação de pele”. Um exemplo clássico disso é o Institut du Monde Arabe.

VARIEDADES
No início do século 21, vários tipos de arquitetura cinética foram formados. O primeiro tipo inclui estruturas funcionais, por exemplo pontes, nas quais a parte central se eleva para que grandes navios possam nadar. Outros exemplos desse tipo são o Millennium Stadium, no País de Gales, e o Wembley Stadium, na Inglaterra, com teto retrátil, assim como o estádio Feltins-Arena, na cidade alemã de Gelsenkirchen, também com um campo retrátil.

O famoso Wembley Stadium, na Inglaterra

 

O majestoso Millennium Stadium, em Cardiff, País de Gales

 

O Estádio Veltins-Arena, também conhecida como Arena AufSchalke, na Alemanha

O segundo tipo são os transformadores de edifícios, que têm uma aparência bonita e podem mudar sua forma. Um exemplo notável é a construção do “Burke Brise soleil” no Museu de Arte de Milwaukee, o Museu de Arte de Milwaukee, que é feito como um pássaro. Além do valor estético deste projeto, há também um aspecto funcional: esta construção protege as pessoas do sol escaldante e das intempéries.

O próximo tipo de arquitetura cinética é caracterizado pelo fato de que o movimento ocorre na superfície do edifício. Um exemplo clássico é o Instituto do Mundo Árabe em Paris, no prédio do qual há persianas de metal, operando segundo o princípio do diafragma: as fendas se alargam ou se estreitam, dependendo da luz do sol.

Neste último tipo, as tecnologias modernas são combinadas com a proteção ambiental. Os edifícios cinéticos deste grupo são capazes de produzir energia para alimentação autônoma, graças à energia eólica. O arranha-céu de David Fischer demonstra essa combinação: graças à rotação dos pisos dos edifícios em torno de seu eixo, as turbinas localizadas entre os andares devem pegar o vento, transformando sua energia em eletricidade.

Os arquitetos Sarah Bonnemeyson e Christine Masi sugeriram que o movimento na arquitetura pode ser sem partes móveis do edifício, é suficiente que ele foi colocado como uma idéia no próprio edifício, como foi o caso de Gaudi. O termo “Arquitetura Cinética” também se aplica a edifícios estáticos que são comparados com o movimento humano, como, por exemplo, nas artes performáticas (música, dança). Além disso, como título, esse termo tem sido repetidamente escolhido por grupos criativos, incluindo grupos de dança.

Os arquitetos Sarah Bonnemaison e Christine Macy sugeriram que o movimento pode ser uma ideia inspiradora para a arquitetura sem que os projetos tenham que permitir um movimento real – eles podem simplesmente sugerir isso como foi o caso de algumas das construções de Gaudi ou de seu próprio trabalho recente. O termo arquitetura cinética também pode se referir a edifícios estáticos projetados para acentuar o movimento humano, como as artes performáticas. A frase foi escolhida como um título para a realização de grupos, incluindo uma companhia de dança.

RÚSSIA
A arquitetura cinética na Rússia, no momento, não é muito desenvolvida, mas, estranhamente, foram os arquitetos russos que estiveram entre os primeiros a experimentar a “arquitetura do futuro”. Em 1920, o arquiteto Vladimir Evtrafovich Tatlin criou um modelo da Torre da Terceira Internacional, que se tornaria um símbolo do futuro graças aos seus materiais (ferro, vidro, metal, aço), formas e funções.

Projeto do Monumento à III Internacional, também conhecida como Torre Tatlin, de 1920 por Vladimir Evtrafovich Tatlin

A Torre Tatlin foi concebida sob a forma de uma dupla hélice, que enrola até 400 metros de altura. Uma característica da torre seria três enormes estruturas geométricas rotativas. A primeira estrutura é um cubo que teve que completar uma revolução completa em torno de seu eixo dentro de um ano. A parte central seria ocupada por um cone (com uma revolução em torno de seu eixo por um mês). E no topo – um cilindro (girando por um dia). Mas a torre nunca foi construída.

Outro arquiteto russo, que trabalhou no campo da arquitetura cinética, é Konstantin Melnikov. Em 1924, ele participou da competição de projetos para a construção da filial de Moscou do jornal “Leningradskaya Pravda”. O local para a construção se destacou muito pouco, então todos os participantes projetaram a construção.

O projeto Melnikov era um prédio de cinco andares, com quatro andares girando em torno de seu eixo (em torno de um núcleo imóvel com uma escada, elevador e comunicações) no sentido horário ou anti-horário. O próprio arquiteto chamou de “arquitetura viva”. Konstantin Melnikov não ganhou o concurso, mas depois de 5 anos ele cria um projeto do monumento a Cristóvão Colombo.

O monumento consistia em dois cones, o superior dos quais teria uma cavidade de coleta de água, uma turbina para gerar eletricidade, e também asas nas laterais que teriam sido pintadas em cores diferentes, e ao mover o monumento mudaria de cor. Melnikov também usou o movimento real em seu projeto para o teatro de Moscou, onde as cenas podiam girar horizontalmente.

Atualmente, na Rússia, apenas o primeiro tipo de arquitetura cinética é desenvolvido – estruturas funcionais. Por exemplo, pontes levadiças ou projetos de estádio com um campo deslizante e teto. As áreas remanescentes da arquitetura cinética na Rússia aina não estão disponíveis.

Maquete feita no Brasil

Maquete do Monumento à III Internacional, produzida em 2018 por arquitetos e artistas brasileiros

Em 2018, para a exposição “Vkhutemas: O Futuro em Construção 1918-2018”, no Sesc Pompéia, em São Paulo/SP, apresentaram ao público, pela primeira vez no país, uma maquete do Monumento à III Internacional, produzida pelo coletivo “Goma Oficina”, formado por arquitetos e artistas.
A reprodução da maquete para a exposição tem 2,5 metros de altura e foi executada em estrutura de alumínio e aço carbono galvanizado, com os volumes internos em polipropileno translúcido, com intuito de manter fidelidade às proporções e intenções da maquete original.

 

EDIFÍCIOS QUE USAM O CONCEITO

Abu Dhabi Investment Council Headquarters

A empresa Aedas Architects é a autora de um dos projetos mais impressionantes de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. As Al Bahr Towers são duas torres envidraçadas, cobertas por um sistema de proteção solar de abertura graduada, que funciona de acordo com as condições meteorológicas. Esses elementos, acrescidos às fachadas, foram inspirados em uma trama tradicional islâmica, conhecida como ‘masharabiya’. Quase dois mil e cem elementos cinéticos, em fibra de vidro e no formato de guarda-chuvas gigantes, controlam a passagem de ar e a incidência de luz solar em cada edifício ao longo do dia.

Soma Expo Pavilion

O SOMA é um pavilhão que foi construído durante a Exposição de Yeosu, na Coréia do Sul, em 2012. Concebido pela One Ocean, em parceria com a Knippers Helbig Advanced Engineering, o edifício é uma das maiores estruturas adaptativas já construídas no mundo. Ele possui uma volumetria bem diferente, que lembra as criaturas marinhas, como os tubarões e seu sistema de respiração. Cento e oito superfícies cinéticas, feitas de fibra de vidro, foram fixadas entre a parte superior e inferior das fachadas. Elas têm a capacidade de resistir a grandes deformações sem quebrar. Painéis solares produzem a energia elétrica que alimenta esse sistema. Assim, como um edifício que respira, as placas abrem e fecham, controlando a incidência solar nos ambientes internos.

Kiefer Technic Showroom

Os arquitetos da Ernst Giselbrecht e Partner projetaram em Steiermark, na Áustria, a Kiefer Technic Showroom. Esse prédio de escritórios e espaços para exposições tem tido destaque nas mídias devido as suas “máscaras dobráveis”. Frente às janelas, painéis em alumínio perfurado são operados eletronicamente à distância. O sistema inteligente permite o controle das condições de temperatura e iluminação dos ambientes, abrindo e fechando os módulos em diferentes graduações, conforme as necessidades dos usuários. Isso permite também infinitas possibilidades de transformação da aparência do volume e vista para o exterior.

Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro

A sede do MIS/RJ é assinado pelo escritório nova-iorquino de projetos Diller Scofidio + Renfro. O escritório Índio da Costa A.U.D.T. foi responsável pelo desenvolvimento.
O projeto, resultado de um concurso internacional ocorrido em 2009, foi concebido como uma extensão do famoso calçadão projetada por Roberto Burle Marx, transformando o edifício do museu em um boulevard vertical.
As placas criam um efeito pixelado de 8 cores, permitindo exibir a imagem de Carmen Miranda.
Em homenagem à cantora e atriz luso-brasileira, a fachada oeste foi projetada com um mural tridimensional que, em sua geometria, escala e diversidade de tons, permite ao público (dependendo de sua localização), visualizar os olhos ou o sorriso da artista.
O projeto executivo previa, inicialmente, o uso de elementos pré-fabricados de concreto revestidos com pastilhas de cerâmica., mas o sistema da fachada ventilada de concreto polímero ofereceu respostas tecnicamente mais adequadas

Foram fabricados mais de 100.000 placas de 15 x 15 centímetros, em seis tons de cinza. Os painéis atuam cada um como um pixel independente, o que permite a formação de imagens diferentes, trocando sutilmente as cores de cada peça.
“Uma das vantagens das peças utilizadas da empresa ULMA, em comparação com outros fabricantes, é que eles podem manipular os arquivos digitais, a fim de permitir a conversão direta entre a imagem digital proporcionada pelos arquitetos e a fabricação e cartografia física dos elementos modulares”.
O concreto polímero, material de alta qualidade, com grande resistência a ambientes com maresia e indústrias, permite uma maior personalização de projetos por sua ampla variedade de cores e texturas. Segundo os responsáveis, através da distribuição das cargas sobre os elementos estruturais, a fachada ventilada também é extremadamente leve e segura.

Fosun Foundation

Para as estruturas do edifício de três andares, os arquitetos usaram 675 tubos de bronze, cujo formato lembra uma cortina de bambu. Esses tubos formam uma espécie de véu semi-transparente que se movimenta mecanicamente, a fim de adaptar o prédio para diferentes usos como, por exemplo, formar uma varanda ou revelar uma paisagem específica da cidade. Segundo os arquitetos, o recurso móvel é inspirado nos tradicionais teatros chineses.

Para saber mais obre este incrível projeto, clique aqui.

.